Em Pai Mogo, concelho da Lourinhã, foi localizada a cerca de 500 metros para o interior das arribas costeiras uma área de nidificação de dinossauro. Aí foram encontrados numerosos ovos, com dimensões da ordem de 124 por 92 mm e fragmentos. Associados a alguns, apareceram ossos de embriões atribuíveis a um terópode. A estrutura da casca, do tipo dinossauroide-prismático, assemelha-se a outras do Jurássico superior do Colorado. Ocorrem no mesmo sítio raros dentes de terópode, de peixe e de um mamífero multituberculado da Família Paulchoffatiidae, até agora bem representada unicamente na célebre Mina da Guimarota (Leiria). O conhecimento de ovos de dinossauros não é de agora. Descobertas nos Pirineus franceses remontam de 1859, e a 1869 na Provença. Em Portugal, foi pioneira a descoberta de Paul Choffat, no Jurássico superior de Alfeizerão, de um ovo associado a uma bacia atribuída a Omosaurus (1908). Desde então, registaram-se grandes progressos, com realce para os conjuntos espectaculares encontrados na Mongólia, China, Alasca, Terra do Fogo, e tantas regiões mais. Em grande parte, datam do Cretácico; só uma minoria ocorre em depósitos mais antigos, do Jurássico em particular. Não obstante os avanços da Paleontologia, muitas interrogações persistem quanto à nidificação, posturas, eclosão e cuidados dos progenitores, incluindo a protecção e a alimentação das crias. São excepcionais os ovos por eclodir, contendo esqueletos embrionários ou associados a ossos de recém-nascidos. Raramente se dispõe da possibilidade de correlacionar ovos com esqueletos; em regra, não é possível determinar os autores das posturas, tornando-se aleatória a atribuição de cascas de qualquer tipo a uma ou outra família de dinossauros. Acerca deste assunto, e a propósito de ovos da China, "...porque cascas e ovos ... são independentes dos esqueletos ... nunca há conexão estrutural ..., sendo difcil atribuir determinado ovo a certo grupo taxonómico de dinossauros" (Zhao, 1994). Assim, não surpreende o desenvolvimento de uma parataxonomia, apesar de descobertas de ovos com embriões, de recém-nascidos e, mesmo, de um dinossauro surpreendido pela morte ao proteger uma postura. Na Europa conhecem-se numerosas posturas e abundam ovos, mas só numa jazida romena, de idade maastrichtiana (Cretácico terminal), apareceu um ovo por eclodir cujo exame por tomografia revelou restos do embrião. No contexto, a descoberta da área de nidificação - para mais, jurássica - de Pai Mogo, com dezenas de ovos e alguns com embriões de dinossauro terópode, constitui acontecimento verdadeiramente excepcional.
Miguel Telles ANTUNES Outras páginas sobre ovos de Dinossauro: |