I Seminário sobre Utilização das Tecnologias da Informação e Comunicação em Geologia
|
||||||||
Desenvolvimento de aplicações educativas em Geologia um exemploJ.B.R. Brilha & R. Henriques RESUMO ABSTRACT
|
||||||||
INTRODUÇÃO E ENQUADRAMENTO É assumido que a produção de livros temáticos de qualquer área científica deverá ser feita por profissionais qualificados, garante da qualidade e rigor científico dos mesmos. O mesmo critério dever-se-ia aplicar quando se trata da edição de manuais escolares que servem de apoio aos docentes e discentes dos vários níveis de ensino. Na área da Geologia, no entanto, verifica-se que a comunidade científica portuguesa não encara como tarefa prioritária a produção de livros/manuais escolares em língua portuguesa. Nas Universidades assume-se que os alunos estão perfeitamente à vontade na consulta de bibliografia em língua inglesa e/ou francesa, não havendo a necessidade de editar livros em língua portuguesa (premissa perfeitamente errada uma vez que, infelizmente, a maioria dos alunos universitários dos cursos de ciências revelam um domínio extremamente precário destas línguas, impossibilitando-lhes o acesso à bibliografia mais actualizada e de melhor qualidade). Nas Escolas dos Ensinos Básico e Secundário verifica-se que, em casos mais frequentes do que seria desejável, os autores dos manuais escolares revelam graves lacunas científicas, materializadas pela ocorrência de erros científicos nos manuais e discutíveis linhas de abordagem em certas matérias. O fraco empenho dos especialistas nacionais na publicação de textos para fins educativos em Geologia terá, certamente, as suas razões que não serão aqui abordadas. No entanto, esta atitude justifica também a quase ausência de aplicações informáticas educativas de distribuição por Internet e/ou CD-ROM. Se assumirmos que os documentos electrónicos devem estar ao mesmo nível dos publicados pelos meios tradicionais, então urge mobilizar os geólogos(as) para a enorme tarefa que os parece desinteressar. Este trabalho apresenta um projecto, já em curso no Departamento de Ciências da Terra da Universidade do Minho, em que se procuram produzir aplicações multimédia, em língua portuguesa, destinadas aos vários níveis de ensino. Desde há algum tempo que este Departamento tem procurado manter alguma produção no que concerne à utilização das tecnologias da informação e da comunicação (TIC) para fins educativos e de divulgação da Geologia (Brilha & Legoinha, 1998; 1999; Brilha et al., 1999a; 1999b; 1999c; Pereira & Brilha, 2000; Pereira et al., 2000). A ausência, quase generalizada, de microscópios petrográficos nas escolas portuguesas levou-nos à realização deste trabalho que tem, como objectivo principal, produzir uma aplicação multimédia com observações microscópicas de rochas e minerais portugueses. Porém, como sabemos, este tipo de observações faz muito pouco sentido se as imagens forem estáticas uma vez que, uma das principais peculiaridades da petrografia óptica, se traduz na caracterização mineral com base na rotação da platina e interacção com luz polarizada. A solução encontrada para ilustrar este carácter dinâmico da petrografia óptica passou pelo recurso à tecnologia de realidade virtual, que detalharemos seguidamente. TECNOLOGIA QUICKTIME VR O QuickTime é uma tecnologia poderosa de leitura e produção de vídeo, imagem fotográfica digital ou realidade virtual, de ampla divulgação, indispensável ao funcionamento de inúmeros títulos multimédia, sendo uma tecnologia nuclear do Sistema MacOS. Na Internet, a sua utilização aparece em largos milhões de sites. No caso particular do QuickTime VR, a sua utilização é bastante variada, começando a ser frequente em sites tão diversos como os de agências de turismo, marcas de automóveis, museus ou estações televisivas. DESENVOLVIMENTO DA APLICAÇÃO Recolha e digitalização das imagens
Escolhida a zona da lâmina delgada que se pretende ilustrar, devem ser calibradas as cores no software de aquisição das imagens do computador, de modo a obter as imagens o mais idênticas possível com o que seria observado directamente no microscópio óptico. As imagens foram adquiridas com uma resolução de 640x480 pixels. Seguidamente procede-se à aquisição das imagens. Como uma correcta observação petrográfica exige, entre outros requisitos, a utilização de luz polarizada com os nicóis paralelos ("luz natural") e cruzados ("luz polarizada"), a captura de imagem deve contemplar estas duas possibilidades. Para que a simulação do movimento da observação seja fluido, numa rotação completa da platina são adquiridas 72 imagens, duas em cada 10°, sendo uma obtida com nicóis paralelos e a outra com nicóis cruzados. De salientar que poderá haver a necessidade de ajustar a intensidade luminosa do microscópio sempre que se cruzam e descruzam os nicóis. No caso de não se possuir uma equipamento de videomicroscopia, terão de ser obtidas fotografias que serão posteriormente digitalizadas. Esta solução, apesar de ser exequível, é muito mais demorada e onerosa. Tratamento gráfico das imagens
Produção dos objectos (animações)
A produção do ficheiro final envolve alguns passos indispensáveis para que este possa ser disponibilizado. Uma das etapas fundamentais da produção vídeo é a compressão. Sem esta os ficheiros finais ocupam demasiada memória para que possam ser disponibilizados via Internet ou armazenados (tabela 1). Face à boa relação entre a qualidade gráfica da animação e a memória ocupada pelo ficheiro, foi utilizado neste projecto o algoritmo Sorenson da Sorenson Vision Inc.. Outro aspecto fundamental que determina a memória ocupada pelo ficheiro final é a dimensão da janela (tabela 1). Se estiver prevista uma disponibilização on-line a dimensão da janela terá de ser reduzida de modo a diminuir o tempo de transferência dos ficheiros de animação. No caso de distribuição off-line, os ficheiros finais poderão ter compressões mais reduzidas e maiores dimensões da janela.
Desenvolvimento do guião A partir de uma das imagens do objecto podem-se criar "mapas" sobre os vários minerais constituintes da rocha ilustrada. Quando se seleccionam com o rato, estes permitem a abertura de novas janelas com textos/imagens descritivos do mineral previamente seleccionado. Trata-se de uma forma interactiva de disponibilizar informação complementar até ao nível de profundidade definido pelos autores. A definição do tipo de linguagem a utilizar ao longo de toda a aplicação deve constituir uma preocupação constante. Tendo sido previamente estabelecido o público-alvo, dever-se-á ter em consideração a especificidade do mesmo, não utilizando uma linguagem demasiado científica. Os termos técnicos, que inevitavelmente terão de ser usados, deverão ser explicados resumidamente. Disponibilização do produto A produção de um CD ou DVD-ROM necessitará do reforço da equipa de trabalho uma vez que envolve conhecimentos de multimédia mais aprofundados. Julga-se conveniente que este suporte seja híbrido, isto é, seja compatível com vários sistemas operativos (pelo menos os mais comuns, Windows® e Macintosh®). A existência de uma versão em língua inglesa deverá ser considerada caso se pretenda fazer uma divulgação do produto no estrangeiro. CONSIDERAÇÕES FINAIS A edição de produtos de qualidade de natureza informática pode contribuir para incentivar o estudo das disciplinas relacionadas com as Ciências da Terra. As suas potencialidades, a nível do multimédia, garantem uma melhor compreensão de certos conceitos ou processos fazendo recurso a animações e simulações. A sua disponibilização utilizando meios de grande divulgação (como as TIC) contribuirá decisivamente para aumentar a cultura científica da sociedade portuguesa.
Referências Brilha, J. & Legoinha, P. (1999) - Geopor Ciências da Terra na Internet. Noesis nº50, Instituto de Inovação Educacional, 64-65. Brilha, J.; Dias, G.T.; Mendes, A.C.; Henriques, R.; Azevedo, I.C. & Pereira, R. (1999a) The geological heritage of the Peneda-Gerês National Park (NW Portugal) and its electronic divulgation. Towards the balanced management and conservation of the geological heritage in the new millenium. D. Barantino, M. Vallejo & E. Gallego (Eds.). Sociedad Geológica de España, 315-318. Brilha, J.; Legoinha, P.; Gomes, A. & Rodrigues, L. (1999b) - A integração das TIC no ensino perspectiva actual no domínio das Ciências Naturais. Conferência Internacional "Challenges'99", Universidade do Minho, Braga. Em publicação. Brilha, J.; Legoinha, P. & Butler, J. (1999c) - The Internet and the Geology teaching in Portugal. Computers & Geosciences, vol.25, nº2, 205-206. Brilha, J.; Dias, G.T.; Mendes, A.C.; Henriques, R.; Azevedo, I.C. & Pereira, R. (1999d) - A Internet e a divulgação do património geológico. Resumos do I Seminário sobre o Património Geológico Português, Instituto Geológico e Mineiro, Lisboa. Pereira D.I. & Brilha J.B.R. (2000) Virtual field trip in the Mirandela region (NE Portugal) an example of how to enhance Geosciences education. Ciências da Terra, neste volume. Pereira R.M.I., Brilha J.B.R. & Dias G. (2000) Percursos virtuais do Parque Nacional da Peneda-Gerês. Uma contribuição para o Ensino das Ciências da Terra. Ciências da Terra, neste volume. |
||||||||
I Seminário sobre Utilização das Tecnologias da Informação e Comunicação em Geologia
|