Os multimédia no ensino da geodinâmica Portuguesa - Projecto PETRA: um recurso em construção
C. Henriques1, H. Ferreira1, P. Pereira1, V. Carvalho1, N. Ferreira2, E. Pereira2, A. Futuro3, A. Leite3
1- Centro de Informática Correia de Araújo - Faculdade Engenharia - Unive. do Porto.
2- Instituto Geológico e Mineiro.
3- Departamento de Minas da Faculdade de Engenharia da Univ. do Porto.
RESUMO
Palavras-chave: Multimédia; Geologia de Portugal; Granitos da Zona Centro-Ibérica
Neste trabalho, pretende-se dar conta dos primeiros resultados da actividade de uma equipa criada com o objectivo de produzir recursos didácticos destinados ao ensino da Ciências da Terra, versando fenómenos geológicos do território continental português - Projecto PETRA. Lançando mão de meios multimédia e sínteses de carácter científico de diversos autores, é nossa intenção colaborar na conceptualização dos fenómenos dinâmicos associados às orogenias que, sucessivamente, afectaram o nosso território. Para além do uso de esquemas relativos aos diferentes modelos interpretativos das colisões Cadomiana e Varisca, é dado particular destaque à instalação dos diferentes fácies granitóides da Zona Centro Ibérica, ilustrando-se a sua sequência segundo uma perspectiva dinâmica da sua génese. Toda esta temática encontra-se sustentada pelos principais conceitos da Teoria da Tectónica de Placas, actualmente aceite para explicar as observações geológicas feitas no nosso planeta.
ABSTRACT
Keywords: Multimedia; Portugal Geology; Ggranite of the Iberian Central Zone
In this work we aim at presenting the first results obtained by a team of researchers interested in the production of didactic resources for the teaching of Earth Science subjects of the Portuguese continental geological territory. PETRA is the name of this project. Multimedia tools were used to introduce scientific synthesis already produced by several authors, to allow for the conception of dynamic phenomena related to the orogenic stages, which successively, have been affecting our territory. For this purpose, diagrams representing the different models of Cadomian and Varisca collisions will be presented, with special emphasis to the genesis of the various types of granite of the Iberian Central Zone, illustrating their sequence in a dynamic way. All this subject is based on the main concepts of the theory of Plate Tectonics, nowadays accepted to explain the geological observations which have been taking place all over the Planet.
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INTRODUÇÃO
Tem-se assistido, nos últimos anos, a um cada vez maior interesse por parte dos cidadãos pelos temas da geologia, resultado de uma também cada vez maior percepção das influências que a actividade humana exerce sobre o nosso planeta (muitas vezes de carácter nefasto), bem como pela proliferação de programas de qualidade sobre temas das ciências geológicas que são transmitidos pelos meios de comunicação social, dos quais a televisão se apresenta como um dos mais eficazes. |
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Os fenómenos geológicos que, ao longo do tempo, têm vindo a transformar os terrenos que constituem o território nacional, são motivo permanente da investigação de uma comunidade científica de que fazem parte, principalmente, geólogos especialistas. Todo o conhecimento que se tem desenvolvido encontra-se disperso em um número indeterminado de artigos publicados e em um outro número não facilmente identificável de livros e revistas. Este facto, e por ser a investigação o principal motor da publicação, faz com que as sínteses dos conhecimentos para alunos pré-universitários, universitários fora da especialidade da geologia e cidadãos comuns, seja escassa ou mesmo inexistente. As tentativas de fazer a história geológica de Portugal são raras e quando conseguidas não se isentam da grande complexidade perfeitamente correlacionada com o trabalho de investigação que as antecede.
Estas duas realidades, a do interesse do cidadão pelos temas geológicos e a inexistência de material didáctico que, para o caso do nosso país, conte a "uma boa história" sobre o que aconteceu no passado e continua a acontecer aos terrenos onde colocamos os pés, são o motor para estimular o presente desafio que a nós próprios colocamos: construção de um recursos didáctico sobre a geodinâmica Portuguesa.
COMO SE INICIOU O PROJECTO PETRA
A incorporação de grupos de alunos de algumas licenciaturas da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) no Centro de Informática Correia de Araújo (CICA), como colaboradores, tem vindo a criar condições de produção de materiais didácticos para diversos fins, tirando partido dos meios mútimédia existentes neste Centro da FEUP.
Foi, precisamente, a partir de um destes grupos, que surgiu a proposta de criação de uma equipa de trabalho que se debruçasse sobre a temática da geologia, com vista à criação de alguns recursos didácticos visando sintetizar de forma simples e clara, muitos dos desenvolvimentos científicos recentes nesta área do saber.
O ponto de partida foi o artigo de N. Ferreira et al, intitulado "Granitóides da Zona Centro Ibérica e seu enquadramento geodinâmico". Este artigo apresenta uma classificação recente dos granitos da Zona Centro Ibérica (ZCI) resultante do enquadramento da sua génese na orogenia Varisca que teve lugar entre 387 e 286 milhões de anos. As suas diferentes fácies, ao permitirem uma análise da evolução dos campos de tensão que actuaram durante o longo período da orogenia, são uma janela de informação que permite fundamentar e conceptualizar os modelos que actualmente são aceites para explicar este grande acontecimento que acrescentou à Península Ibérica a denominada Zona Sul Portuguesa (ZSP). Alguns dados deste artigo têm sido, habitualmente, usados por nós em aulas e palestras da área das Ciências da Terra, revestido-se estes de um carácter aparentemente eficaz no ensino das rochas ígneas em causa. Estamos a referir-nos, em particular, à sequência de 7 mapas onde se representam os afloramentos dos diferentes litotipos dos granitos ordenados segundo a sua idade orogénica. Estes, depois de passados para acetato, pintadas com diferentes cores as sucessivas manchas graníticas neles existentes e sobrepondo-os, respeitando as idades relativas de cada um, permitem uma visualização apelativa passível de ser usada como recurso didáctico. E foi, a partir dessa aparente eficácia, que surgiu a ideia de lançar mão de meios multimédia que permitam aumentar a clareza e diminuir a complexidade dos meios no ensino destes fenómenos geológicos que nos rodeiam. |
Fig. 1 Granitóides Sinorogénicos de duas micas Sin a Tardi F3 (N. Ferreira et al, 1987) |
Fig. 2 Modelo da colisão varisca que afectou o norte do país (E. Pereira, 1985) |
Fig. 3 Orogenia Cadomiana (C. Quesada, 1990) |
Imediatamente a seguir à experiência do uso de um software multimédia para representar os diferentes afloramentos graniticos da ZCI, confrontamo-nos com a viabilidade de continuar a lançar mão deste tipo de ferramentas para apresentar as características gerais da colisão Varisca, nomeadamente os modelos actualmente aceites para explicar essa colisão quer a norte, quer a sul do País.
Assim, recorrendo a artigos da especialidade, foi-nos possível obter esquemas representativos desta colisão peculiar nestes dois sectores do Arco Ibero-Armoricano.
O passo seguinte foi-nos ditado pela necessidade de permitir uma leitura de um fenómeno geológico mais antigo mas com consequências gerais do mesmo tipo: a acreção de massas continentais que se movem. Estamos a referir-nos à orogenia Cadomiana que antecedeu a Varisca.
É pois possível sintetizar, quer para o aluno, quer para o cidadão comum que aceda a este tipo de suporte de informação, uma explicação sobre a origem das 3 principais zonas paleogeográficas que constituem o nosso País.
Fig. 4 Zonas paleogeográficas da Península Ibérica (E. Pereira, 1985)
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Fig. 5 Bloco diagrama do arco Japão (Strahler, A. N., 1992) |
Esta dinâmica dos terrenos é uma clara imagem do carácter mutável que caracteriza o nosso planeta. Surge então como consequência lógica, neste processo interactivo de construção de um recursos didáctico, a introdução dos principais conceitos da Teoria da Tectónica de Placas que são hoje aceites como unificadores da maioria das observações geológicas que se têm vindo a realizar no terreno.
E assim, sucessivamente, degrau a degrau, tem vindo a ser construído o Projecto PETRA caracterizado, neste momento, por um crescimento incipiente, mas desde já apontando no sentido de um desenvolvimento lento mas consistente. Este é o momento da sua primeira apresentação pública e será a partir do feedback recebido que mais desenvolvimentos serão implementados e novos rumos serão trilhados.
OS RECURSOS MULTIMÉDIA
A introdução das Tecnologias de Informação (TI) em ambientes educativos parece ser já uma realidade inquestionável do nosso quotidiano bem como das escolas dos diferentes níveis de ensino. Se por um lado os efeitos da incorporação destas tecnologias ainda não é claramente visível em termos da alteração dos modelos clássicos de ensino, as suas potencialidades didácticas deixam prever grandes implicações no processo de ensino-aprendizagem. A mudança da realidade educativa que as TI aparentemente estão promover só poderá ser claramente eficaz se as atitudes dos docentes, face à sua introdução, forem também de disponibilidade para a descoberta das referidas potencialidades. As TI podem e devem promover a própria formação dos professores. Este papel fulcral a assumir pelos docentes implica uma mudança progressiva das atitudes e não será compatível com alterações radicais dos hábitos de trabalho dos mesmos, nem com o abandono dos outros recursos auxiliares do ensino. Devem ser considerados recursos igualmente auxiliares.
O uso de meios multimédia para a divulgação de conceitos científicos não é mais do que uma técnica didáctica enquadrada no denominado Ensino Programado (EP) e mais particularmente no Ensino Assistido por Computador (EAC).
Com ele, recorrendo à utilização de uma multiplicidade de meios diferentes (visuais e acústicos), pretende-se possibilitar uma racionalização dos processos de aprendizagem e chegar mesmo a estágios de autoavaliação sobre o grau de conhecimentos adquiridos. Pensa-se que o uso deste tipo de recursos, onde a interactividade incrementada é abundante, permite combater a eventual tendência do utilizador para a passividade e assim torná-lo protagonista do próprio processo de ensino-aprendizagem.
Este meio de ensino permite a apresentação dos conhecimentos embuidos de rigor científico. Para tal, torna-se necessária, na equipa criadora das peças, a presença orientadora e crítica de especialistas dos temas abordados.
Uma das características do EP, também presente no recurso agora em construção, é permitir o seu uso tanto na aprendizagem individualizada, onde o utilizador interactua com a peça seguindo um caminho que ele próprio escolhe, como possibilita a sua exploração em sala de aula, onde o professor se apresenta como um cicerone que conduz toda a classe aos items que mais lhe convém, segundo uma estratégia anteriormente por ele definida.
FERRAMENTAS USADAS
Na concepção do recurso multimédia em questão, usou-se o software Macromedia Director 7.0.2. A escolha recaiu sobre esta aplicação por permitir uma rápida prototipagem, concedendo à equipa de desenvolvimento a versatilidade suficiente para inclusão e manipulação de conteúdos multimédia distintos, levando assim a um desenvolvimento simples e célere. A possibilidade de edição colaborativa de uma mesma peça, permite a distribuição de trabalho pelos diferentes elementos da equipa. |
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O software Director recorre a uma metáfora adaptada à criação de peças multimédia: "o mundo do cinema e da animação". Aquando da autoria da peça tal como num filme, integra-se som e imagem num palco, animando esses actores segundo um guião pré-definido (análogo ao dos cartonistas). Os vários recursos disponíveis estão agrupados em elencos, e os actores são dispostos no palco usando diversos efeitos. O uso efectivo desta metáfora permite a integração suave de módulos de aprendizagem interactivos com módulos narrativos.
O uso deste software específico permite uma fácil distribuição multiplataforma Windows®, Macintosh®, WEB, conseguindo-se deste modo chegar sem grandes esforços a uma vasta audiência. A plataforma primária escolhida para esta peça foi a distribuição em CD-ROM para Windows®.
Para a preparação de conteúdos foram ainda usados o Adobe Illustrator (vectorização de mapas), e o Adobe Photoshop (tratamento de imagem).
Todas as ferramentas usadas são consideradas pela indústria multimédia como os standard de facto nas áreas respectivas, permitindo assim que a produção dos conteúdos e módulos de aprendizagem mantenha uma excelente qualidade.
CONCLUSÃO
Não nos parecendo eficaz a exaustiva descrição da peça de software produzida mas profícuo o contacto e a exploração da mesma, desde já nos disponibilizamos para a sua divulgação juntos dos interessados.
Estamos convictos da contribuição positiva que este tipo de recursos didácticos pode representar dado existir lugar para ele na área do ensino da geologia, nomeadamente da geologia de Portugal.
A sua construção necessariamente terá que ser processada através de uma permanente crítica interna, envolvendo os seus autores, bem como por uma bem vinda e fecunda participação daqueles que acederem ao seu conteúdo. Deste modo, encontramo-nos receptivos a todas as críticas e sugestões que possam ser veiculadas no sentido da melhorar a eficácia do PETRA.
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