Em resposta à questão colocada, posso procurar esclarecer alguns aspectos:
1. As areias de praia e de duna têm características bastante distintas, em resultado dos processos físicos e químicos que presidiraam ao seu transporte e deposição.
2. Ao nível dos grãos individuais, é de esperar que as areias de praia sejam roladas ou sub-roladas e com superfície brilhante (em parte devido à acção química da água do mar); a areia pode ser mais ou menos grosseira (depende da energia da praia) e a calibragem do conjunto deve ser boa a moderada, podendo ser abundantes os bioclastos, além do quartzo predominante. Nas areias de Duna, os grãos são em geral também rolados, mas a superficie apresenta-se baça ou picotada (deviddo ao choque entre os grãos), sendo a areia não grosseira e a calibragem do conjunto sempre boa (quase só quartzo).
3. Estas características-padrão podem ser um pouco modificadas, em função da proveniência dos grãos, ou seja, do local ou ambiente de onde provêm e do tempo que tiveram para evoluir no novo ambiente. Assim, um rio que lance abundantes areias num litoral irá gerar areias de praia com características (ainda) fluviais (grãos sub-angulosos, pouco brilhantes, pouco calibrados, com grãos de naturezas variadas (feldspatos, micas, litoclastos) se não houver tempo suficiente para elas evoluirem na praia. De igual modo, é frequente as areias de dunas litorais provirem da praia adjacente, podendo apenas alguns grãos ter adquirido as novas características tipicamente eólicas.
4. Em relação ao cimento de um arenito, frequentemente ele é diagenético e por isso não será distintivo entre areias de praia e de duna. Em ambos os caso é frequente o cimento carbonatado, podendo haver ou não porosidade.
5. Ao nível do afloramente e das estruturas observáveis, um arenito de praia pode ter laminações horizontais ou de baixo ângulo, por vezes marcadas por níveis de Minerais Pesados (negros). Poderá eventualmente haver laminações com 2 sentidos contrários, correspondentes à enchente e vazante. Os arenitos dunares distinguem-se por apresentar feixes mais espessos (até 1 ou 2 metros) com lâminas de maior dimensão e também com ângulos maiores (podendo ultrapassar os 20 ou 30 graus); em geral as direcções de inclinação variáveis mas dificilmente variam de 180 graus (direcções dos ventos dominantes).
6. Um último factor distintivo pode ser a existência de marcas orgânicas. Nas areias de praia pode haver bioturbação sub-aquática por invertebrados, enquanto nas areias de duna podem existir marcas de raízes (rizoconcreções) e paleosolos (níveis vermelhos ou negros de vido à exposição sub-aérea.
7. Finalmente, em relação ao Mioceínico de Carcavelos, há numerosos trabalhos escolares feitos na disciplina de Paleontologia no Dep. de Geologia da F.C.U.L. (orient. dos Profs. Mário Cachão e Marques da Silva), que poderão ajudar a compreender os ambientes então existentes.
Espero que estas notas gerais ajudem a esclarecer a questão colocada. Outras indicações mais detalhadas podem ser encontradas nos muitos livros de texto de Sedimentologia, infelizmente a quase totalidade em inglês.
Nuno Pimentel
GeoFCUL - Dep. Geologia da Fac. Ciências, Univ. Lisboa (Pimentel@fc.ul.pt)