Eu gostaria de saber como é que Portugal foi em tempos remotos, parte de um glaciar?

Contribuição 1

Entre aproximadamente 80 mil e 12 mil anos atrás a Terra foi afectada por um período mais frio que o actual, a Última Glaciação, conhecida nos Alpes como Wurm, na Escandinavia como Weichselian (o Vistuliano da Polónia) e Wisconsinian na América do Norte. Então, grande parte da América do Norte encontrava-se coberta por uma grande massa de gelo, denominada calote laurentina. O mesmo aconteceu na Escandinávia e Norte da Europa, onde se formou a calote escandinava. Estas calotes de gelo chegaram a ter em alguns pontos 3 km de espessura (à semelhança do que acontece hoje na Antárctida).

Muitas das montanhas da Terra, devido a esse arrefecimento generalizado, ficaram também cobertas por glaciares. Estes eram mais extensos que os actuais, nas montanhas onde ainda existem (como os Alpes, Himalaias, Andes ou as Rochosas). Noutras, onde actualmente não existem glaciares, se as condições foram favoráveis, o arrefecimento geral causou a sua formação.

Sabe-se que esses períodos mais frios, denominados glaciações ocorreram por diversas vezes durante os últimos 2 milhões de anos. Umas vezes originado glaciares maiores, e outras, menores.

Algumas montanhas portuguesas como as serras da Estrela, Peneda e Gerês, mostram efeitos das glaciações (erosão glaciária e também sedimentos depositados pelos glaciares). Por se tratarem de altitudes e latitudes relativamente baixas, as condições para a formação e manutenção dos glaciares não devem ter prevalecido durante tanto tempo, nem tão frequentemente como nas montanhas mais altas e latitudes mais elevadas. Pensa-se, por exemplo, que os vestigios de glaciares na serra da Estrela estão relacionado com o Máximo da Última Glaciação, datado de há cerca de 18 a 20 mil anos.

Portanto, Portugal apesar de hoje ser um país relativamente quente, teve também glaciares.

Gonçalo Teles Vieira
Centro de Estudos Geograficos, Univ. de Lisboa
gtvieira@ceg.ul.pt


Contribuição 2

Em primeiro lugar é necessário rectificar a afirmação, dado que Portugal não foi parte de um glaciar. O que sucedeu foi que quando a temperatura ambiente era muito mais baixa que a actual, em zonas montanhosas (tais como na Serra da Estrela, Gerês, etc) durante o inverno havia uma acumulação grande de neve que, devido ao próprio peso da neve e às baixas temperaturas passava a gelo. O verão era muito mais curto e a subida de temperatura não era suficiente para que a neve e gelo se derretessem. Assim, ficava sempre uma certa quantidade de gelo de um ano para o outro e progressivamente ia aumentando a quantidade de gelo acumulado nas zonas de montanhas. Esse gelo ia-se deslocando progressivamente ao longo dos vales e essas massa de gelo é que são chamadas glaciares. Este mecanismo existe actualmente em muitas zonas montanhosas da Europa Central (como os Alpes) e no Norte da Europa. Com o aumento continuado da temperatura nos últimos 30.000 anos, o gelo das zonas montanhosas de Portugal e de outras regiões da Europa foi desaparecendo de modo progressivo. Actualmente só em alguns períodos do inverno se encontra neve e algum gelo nas zonas montanhosas de Portugal. Em Espanha, onde há regiões montanhosas mais altas que Portugal (Pirinéus, Serra Nevada) existe neve e gelo durante o ano inteiro.

Ana Baia
Dep. de Ciências da Terra, univ. de Coimbra
ana-baia@clix.pt

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