1- A Geopor tem um link a um site sobre tectónica de placas, que define placa do seguinte modo:
"Em termos geológicos, uma placa é um segmento rígido da crosta terrestre constituído por rocha sólida".
2- O exame de Geologia do 12º ano, 1ª chamada, propunha a leitura de um texto do DN magazine e uma das questões exigia a comparação entre o significado dos termos crusta terrestre e litosfera, mencionados em duas frases do texto:
a) "...a crusta terrestre é dividida em placas tectónicas..."
b) "...será mais fácil conhecer os diferentes deslocamentos entre as placas geológicas, compreender os movimentos dinâmicos da litosfera..."

Parece-me que existe uma certa confusão entre crosta e litosfera neste texto do DN, que o exame pretendia que os alunos clarificassem, mas nos jornais é "natural" acontecerem estas confusões... ou não é confusão? E são modelos distintos da estrutura da Terra? Será que ambas as definições estão correctas? Ou seja, uma placa pode ser um segmento de crosta ou de litosfera?
Gostaria de obter resposta de quem sabe. Obrigada.
Edite Bolacha

Contribuição1
Crusta terrestre e a camada mais superficial da Terra segundo o modelo químico, enquanto que a litosfera é a camada mais superficial da Terra segundo o modelo fisico, englobando a crusta e a camada superficial do
Manto.
A resposta pedida no exame , segundo os criterios de classificação do mesmo era "A litosfera é constituida pela crusta e pelo manto superior".

Nuno Coelho (profcalhau@hotmail.com)

Contribuição 2
Aqui vai uma adaptação de parte de um trabalho que fiz para a cadeira de Geodinâmica (Licenciatura em Geologia, 4ºano, da FCUL). Espero que ajude a clarificar as constantes dúvidas que aparecem em relação aos conceitos de estratificação composicional da Terra em Crosta, Manto e Núcleo e de estratificação reológica da Terra em Litosfera, Astenosfera e Mesosfera.

Comparação dos conceitos de estratificação composicional da Terra em Crosta, Manto e Núcleo e de estratificação reológica da Terra em Litosfera, Astenosfera e Mesosfera
A Terra é um planeta diferenciado, ou seja, os materiais presentes na sua constituição estão separados e segregados em níveis concêntricos de acordo com a sua densidade. Os materiais mais densos encontram-se concentrados junto ao centro, enquanto que os de menor densidade se encontram junto à superfície.

Os níveis internos da Terra apresentam duas classificações distintas que têm como base ou as suas características químicas (composicionais) ou as suas propriedades físicas que traduzem o comportamento reológico. Enquanto que a estratificação da Terra em Crosta, Manto e Núcleo traduz as características composicionais, a estratificação em Litosfera, Astenosfera e Mesosfera traduz as características reológicas.

A estratificação baseada na composição
O termo Crusta ou Crosta é usado para referir a estratificação mais exterior da Terra. A Terra no estado primordial deverá ter sido um "melt" que à medida que arrefeceu formou uma crosta rígida que envolvia o seu interior ainda no estado líquido. Apesar deste termo ter sido obsoleto durante cerca de um século, o termo Crusta ainda é popular. No entanto, adquiriu outro conceito que é aceite na generalidade, designando a estratificação mais externa da Terra, que se estende desde a superfície sólida até à primeira descontinuidade principal da velocidade sísmica da litosfera que traduz uma mudança composicional mas não estrutural.

A Crusta dos continentes é distinta da Crusta que se encontra sob as bacias oceânicas. A Crusta continental é muito mais espessa (desde 30 Km a 50 Km de espessura) e tem uma composição média granítica com uma densidade aproximada de cerca de 2.7 g/cm3. Por contraste a Crusta Oceânica apresenta uma espessura menor (até 8 Km) e tem uma composição média basáltica com uma densidade média de 3 g/cm3.

O Manto segue-se à Crusta e constitui aproximadamente cerca de 82% do volume da Terra e cerca de 62% da sua massa. Estendendo-se até aos 2883 Km, o Manto apresenta uma composição silicatada de Ferro e Magnésio (peridotítica) com uma densidade que aumenta desde cerca de 3.2 g/cm3 junto à Crusta para cerca de 5 g/cm3 junto ao contacto com o Núcleo.

O limite superior do Manto é conhecido pela primeira descontinuidade sísmica na velocidade de propagação das ondas. Esta primeira zona abaixo da superfície terrestre onde a velocidade de propagação das ondas sísmicas se reduz significativamente é denominada por descontinuidade de Mohorovic&Mac255;ic´, nome do sismólogo jusgoslavo que a descobriu em 1909. Actualmente esta descontinuidade é maioritariamente referida simplesmente por Moho ou descontinuidade M.

O Núcleo constitui a estratificação mais interna da Terra iniciando-se aos 2900 Km, estando separado do Manto pela descontinuidade sísmica de Gutenberg. Apesar da sua densidade aumentar para o centro da Terra apresenta uma densidade média de 10.8 g/cm3. Constitui apenas cerca de 16% do volume terrestre mas representa 32% da massa da Terra. A sua composição é maioritariamente constituída por ligas de Ferro e Níquel misturadas com outros elementos como Carbono, Silício ou Enxofre.

A estratificação baseada na reologia
Desde a superfície terrestre e até cerca de 70-150 km (sob os oceanos ou sob os continentes, respectivamente) o material encontra-se no estado sólido tendo um comportamento maioritariamente rígido, capaz de suportar pressões da ordem dos 100 bar sem sofrer deformação significativa. Esta zona da Terra denomina-se por Litosfera (Lithos, termo grego para denominar pedra – "esfera de pedra"). resta referir que esta zona da Terra corresponde às Placas Tectónicas.

Durante as últimas décadas foi reconhecida uma zona do Manto superior onde a temperatura e a pressão são tais que parte do material funde (cerca de 1% da sua massa total) ou encontra-se perto do ponto de fusão. Sob estas condições as rochas constituintes do Manto tornam-se plásticas e fluem. A esta zona que se deforma facilmente denomina-se por Astenosfera (Asthenes, termo grego para denominar fragilidade – "esfera fraca"). A Astenosfera estende-se até aos 150 km de profundidade, mas apresenta uma zona de transição, onde as placas litosféricas podem mergulhar, para a Mesosfera que se estende até cerca dos 600 km. A Astenosfera tem uma composição semelhante à Litosfera inferior, constituindo o suporte que permite o deslizamento das placas litosféricas, que podem mergulhar na Astenosfera por meio das superfícies de Wadatti-Benioff.

Com o aumento da profundidade a rocha peridotítica do Manto torna-se mais forte e mais rígida do que na Astenosfera devido ao aumento da temperatura não conseguir balançar o aumento da pressão. A esta região que se estende desde a base da Astenosfera até à fronteira Manto-Núcleo denomina-se Mesosfera.

Resta referir que o Núcleo representa uma mudança quer a nível composicional quer a nível reológico. A sua composição difere da composição peridotítica do Manto e segundo as propriedades físicas é constituído por dois níveis separados pela descontinuidade sísmica de Lehman: o Núcleo interno que se encontra no estado sólido e o Núcleo externo que se encontra no estado líquido e que se estende até cerca dos 5100 km. Este contraste entre o Núcleo interno e o Núcleo externo aliado à perca de calor e à rotação da Terra são tidos como os factores geradores do campo magnético terrestre.

Após esta breve descrição podemos concluir que apesar destes dois conceitos de estratificação interna da Terra coincidirem no caso da fronteira Manto—Núcleo, estes apresentam estratificações diferentes que não coincidem pois estão associados a dois conceito diferentes que não deverão ser confundidos. A estratificação da Terra em Crusta, Manto e Núcleo traduz apenas diferenças na composição química do interior da Terra enquanto que a estratificação em Litosfera, Astenosfera e Mesosfera traduz o comportamento das rochas face às tensões aplicadas.

Rita Martins (rita_elvasmartins@yahoo.com)

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