Gostaria de saber se o único tipo de erosão que actua nos rios é a erosão regressiva. Eu sei que este tipo de erosão actua quando há uma alteração do nível de base e que também é responsável pelo recuo dos rápidos e das cataratas mas será que quando o rio escava o seu leito, na fase de juventude, este é o único tipo de erosão que actua? Como é que o rio regula o seu perfil de equilíbrio? Somente por erosão regressiva? E esta erosão regressiva estende-se a todos os sectores de rio ou só existe no curso superior?
Já agora, a velocidade da corrente é maior no curso superior, sendo esta a razão para os materiais encontrados neste troço dos rios serem de maior calibre? Faço esta pergunta porque vi um gráfico, num manual escolar, que relacionava a velocidade da corrente com a descarga (ou débito) e que apresentava um valor superior para a velocidade da corrente no curso inferior do rio. Desde já agradeço a resposta a estas minhas dúvidas.
Por último, gostaria de dar os meus parabéns aos mentores deste projecto porque se revela de grande utilidade no esclarecimento de aspectos que os livros não aprofundam ou tratam, por vezes, de forma algo duvidosa.
Nelson Pereira

Muito sinteticamente (porque há capítulos inteiros de livros sobre isso...):
1. A erosão regressiva actua a montante, no sentido de recuar as zonas de cabeceira. Mas o próprio leito vai sendo escavado, "verticalmente", se não em todo o troço do rio, pelo menos nas áreas de cabeceira e intermédias (as áreas a jusante são essencialmente de sedimentação).
2. A procura do perfil de equilíbrio faz-se exactamente por essa via: aprofundamento em grande parte do leito, sendo esse aprofundamento maior a montante e menor a jusante. Por isso o declive geral do rio diminui (basta fazer um esquema: traçar o perfil de um rio e "escavá-lo" mais a montante que a jusante, progressivamente, e ver o que acontece no desenho).
3. A dimensão dos clastos depositados (que são exactamente e LaPalissemente aqueles que o rio já não consegue transportar mais...) é função da competência do rio, o que não depende estritamente da velocidade. O que se passa é que ao longo do rio o declive diminui (embora o caudal aumente...) e por isso a capacidade de transporte também diminui.
Espero ter dado algumas achegas gerais e básicas, suficientes para poder raciocinar no assunto. Detalhes mais específicos poderão ser encontrados em livros da especialidade.

Nuno Pimentel
GeoFCUL - Dep. Geologia da Fac. Ciências, Univ. Lisboa
CeGUL - Centro de Geologia da Universidade de Lisboa
pimentel@fc.ul.pt

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